sábado, 29 de maio de 2010

CRUZADAS

As Cruzadas são tradicionalmente definidas como expedições de caráter "militar” organizada pela Igreja, para combaterem os inimigos do cristianismo e libertarem a Terra Santa (Jerusalém) das mãos desses infiéis. O movimento estendeu-se desde os fins do século XI até meados do século XIII. O termo Cruzadas passou a designá-lo em virtude de seus adeptos (os chamados soldados de Cristo) serem identificados pelo símbolo da cruz bordado em suas vestes. A cruz simbolizava o contrato estabelecido entre o indivíduo e Deus. Era o testemunho visível e público de engajamento individual e particular na empreitada divina.

Partindo desse princípio, podemos afirmar que as peregrinações em direção a Jerusalém, assim como as lutas travadas contra os muçulmanos na Península Ibérica e contra os hereges em toda a Europa Ocidental, foram justificadas e legitimadas pela Igreja, através do conceito de Guerra Santa -- a guerra, "divinamente", autorizada para combater os infiéis.

"Para os homens que não haviam se recolhido a um mosteiro, havia um meio de lavar suas faltas, de ganhar a amizade de Deus: a peregrinação. Deixar a casa, os parentes, aventurar-se fora da rede de solidariedades protetoras, caminhar durante meses, anos. A peregrinação era penitência, provação, instrumento de purificação, preparação para o dia da justiça. A peregrinação era igualmente prazer. Ver outros países: a distração deste mundo cinzento. Em bandos, entre camaradas. E, quando partiam para Jerusalém, os cavaleiros peregrinos levavam armas, esperando poder guerrear contra o infiel: foi durante essas viagens que se formou a ideia da guerra santa, da cruzada".

O movimento cruzadista foi motivado pela conjugação de diversos fatores, dentre os quais se destacam os de natureza religiosa, social e econômica. Em primeiro lugar, a ocorrência das Cruzadas expressava a própria cultura e a mentalidade de uma época. Ou seja, o predomínio e a influência da Igreja sobre o comportamento do homem medieval devem ser entendidos como os primeiros fatores explicativos das Cruzadas.

Tendo como base a intensa religiosidade presente na sociedade feudal a Igreja sempre defendia a participação dos fiéis na Guerra Santa, prometendo a eles recompensas divinas, como a salvação da alma e a vida eterna, através de sucessivas pregações realizadas em toda a Europa.

O Papa Urbano II, idealizador da Primeira Cruzada, realizou sua pregação durante o Concílio de Clermont rompida com a separação da Igreja no Cisma do Oriente, o Papa assim se dirigiu aos fiéis: " Deixai os que outrora estavam acostumados a se baterem impiedosamente contra os fiéis, em guerras particulares, lutarem contra os infiéis. Deixai os que até aqui foram ladrões tornarem-se soldados. Deixai aqueles que outrora bateram contra seus irmãos e parentes lutarem agora contra os bárbaros como devem. Deixai os que outrora foram mercenários, a baixo soldo, receberem agora a recompensa eterna. Uma vez que a terra onde vós habitais, é demasiadamente pequena para a vossa grande população, tomai o caminho do Santo Sepulcro e arrebatai aquela terra à raça perversa e submetei-a a vós mesmos".

A ocorrência das Cruzadas Medievais deve ser analisada também como uma tentativa de superação da crise que se instalava na sociedade feudal durante a Baixa Idade Média. Por esta razão outros fatores contribuíram para sua realização.

Muitos nobres passam a encarar as expedições à Terra Santa como uma real possibilidade de ampliar seus domínios territoriais.

Aliada a esta questão deve-se lembrar de que a sucessão da propriedade feudal estava fundamentada no direito de primogenitura. Esta norma estabelecia que, com a morte do proprietário, a terra deveria ser transmitida, por meio de herança, ao seu filho primogênito. Aos demais filhos só restavam servir ao seu irmão mais velho, formando uma camada de "nobres despossuídos" -- a pequena nobreza -- interessada em conquistar territórios no Oriente por meio das Cruzadas.

Tanto a Cruzada Popular como a das Crianças foram fracassadas. Ambas tiveram um trágico fim, devido à falta de recursos que pudessem manter os peregrinos em sua longa marcha. Na verdade, as crianças mal alcançaram a Terra Santa, pois a maioria morreu no caminho, de fome ou de frio. Alguns chegaram somente até a Itália, outros se dispersaram, e houve aqueles que foram sequestrados e escravizados pelos mulçumanos. Com os mendigos da Cruzada Popular não foi diferente. Embora tivessem alcançado a cidade de Constantinopla (sob péssimas condições), as autoridades bizantinas logo trataram de afastar aquele grupo de despossuídos. Para tanto, o bispo de Constantinopla incentivou os peregrinos a lutarem contra os infiéis da Ásia. O resultado não poderia ser outro: sem condições para enfrentar os fanáticos turcos seldjúcidas, os abnegados fiéis foram massacrados. Além dessas duas cruzadas, tiveram ainda oito cruzadas oficialmente organizadas, em direção à Terra Santa.

-DESDOBRAMENTOS-

Em um primeiro momento, a conquista de terras e o controle da cidade de Jerusalém foram alcançados pelas tropas cristãs. Entretanto, o êxito teve pouca duração mediante as sucessivas vitórias que recolocaram a Terra Santa sob administração muçulmana e as reconquistas dos domínios orientais tomados pelos cristãos. Por fim, os reinos latinos, estabelecidos nas primeiras cruzadas, foram reduzidos a algumas porções da Palestina e da Síria.

Apesar de tais limitações, as Cruzadas tiveram papel fundamental para que a civilização europeia trilhasse novos rumos. Os saques promovidos no Oriente permitiram que uma expressiva quantidade de moedas adentrasse a economia feudal. Com isso, os comerciantes tiveram condições para criar companhias de comércio que transitavam entre o Ocidente e o Oriente. Progressivamente, o medo das terras longínquas perdeu espaço para um renovado espírito empreendedor.

As rotas comerciais permitiram o desenvolvimento das cidades ocidentais e a aproximação dos saberes das civilizações europeia, muçulmana e bizantina. A busca pelo lucro, o racionalismo econômico, o aprimoramento da tecnologia marítima e o racionalismo econômico manifestavam que os antigos ditames feudais não permaneceriam intocados. Do ponto de vista econômico, a antiga feição agrária da Europa ganhava outros contornos.

Os senhores feudais, interessados pelas mercadorias que vinham do mundo oriental, reorganizaram o modelo de produção de suas terras buscando excedentes que pudessem sustentar esse novo padrão de consumo. Além disso, a estrutura rígida do sistema servil cedeu espaço para o arrendamento de terras e a saída de servos atraídos pelo novo modo de vida existente nos espaços urbanos revitalizados. Assim, o feudalismo dava os primeiros indícios de sua crise.

Ao mesmo tempo em que houve o contato entre as culturas, não podemos esquecer que a intolerância religiosa também foi outro importante signo deixado pelas Cruzadas. Do ponto de vista histórico, a perseguição aos judeus e aos muçulmanos se fortaleceu com essas situações de conflito. Não por acaso, podemos notar que os reinos ibéricos, por exemplo, empreenderam uma forte campanha contra indivíduos não cristãos na passagem da Idade Média para a Idade Moderna.

As Cruzadas demonstram que as consequências das ações humanas nem sempre se concretizam conforme seus anseios e expectativas. Contudo, foi essa mesma imprevisibilidade que nos indicou a constituição de novos rumos que romperam o ordenamento feudal. De fato, é praticamente impossível não pensar na contribuição profunda deste evento histórico para que a Europa Moderna ensaiasse os seus primeiros passos.

As 8 CRUZADAS:

Primeira Cruzada 1096 – 1099:

Foi em 1095 que o Papa Urbano II proclamou a primeira Cruzada. Primeiramente foi iniciada a Cruzada dos Mendigos, que foi realizada por inúmeros marginais liderados por Pedro, o Eremita. Essa expedição partiu sem nenhuma organização, os indivíduos não possuíam armas nem recursos, apenas tinham a certeza de que combatendo os infiéis teriam a garantia da salvação de alma.

Depois de percorrer toda a Europa por vários meses, a Cruzada dos Mendigos chegou a Constantinopla, de lá seguiram para a Ásia Menor, onde chegaram já enfraquecidos e foram destruídos pelos turcos.

Em 1096, efetivamente a expedição da Primeira Cruzada partiu em direção à Jerusalém. Esta era constituída por grandes senhores que eram liderados por Godofredo de Bouillon. Após atravessar a Constantinopla conquistaram várias cidades asiáticas, como Edessa, Antioquia, Trípoli, Acre, e finalmente Jerusalém.

Segunda Cruzada 1147-1149:

Os cruzados se envolveram em disputas internas e como estavam distantes de suas bases europeias, os turcos armaram um contra-ataque e reconquistaram Edessa. Com isso, São Bernardo de Claraval fixou a Segunda Cruzada que foi liderada por Conrado II, imperador germânico, e Luís VII, rei da França. Partiram para Antioquia e Acre, mas a conquista de Damasco foi fracassada, por isso acabaram renunciando.

Em 1187, Saladino, sultão do Egito enfrentou os cristão e conseguiu conquistar Jerusalém.

Terceira Cruzada 1189-11921:

A Terceira Cruzada que foi convocada em 1189 teve a participação de Frederico Barbarroxa, imperador germânico, Ricardo Coração de Leão, da Inglaterra e Felipe Augusto, da França. Frederico, que vinha por terra, morreu na Ásia Menor. Ricardo e Felipe, que avançavam por mar, chegaram à Palestina, e depois de um desentendimento entre eles, Felipe retornou à França onde tomou alguns dos feudos do rei inglês, e Ricardo ficou na Palestina onde disputou a Batalha de Arsuf e venceu Saladino, porém suas tropas já estavam arruinadas e não teve condições de sitiar a Cidade Santa.

Nesse contexto, Ricardo firmou um acordo diplomático com Saladino, e retornou à Europa. Esse acordo garantia que Jerusalém ficaria aberta aos peregrinos cristãos por dez anos.

Quarta Cruzada 1202-1204:

A Quarta Cruzada foi convocada em 1202 por Inocêncio III, que recentemente havia assumido o pontificado. Esta expedição foi liderada pelo marquês de Montferrat e pelo conde Balduíno de Flandres. Primeiramente, os cruzados conquistaram a cidade de Zara, e no ano seguinte sitiaram e conquistaram a Constantinopla.

No entanto, essa Cruzada não combateu os mulçumanos, apenas atacou e saqueou os povos cristãos. Por essa razão, Inocêncio III excomungou os cruzeiros da Quarta Cruzada. Esse fato indica que a intensa religiosidade não foi a principal causa das Cruzadas.

Quinta Cruzada 1217-1221:

A Quinta Cruzada foi liderada por João de Brienne, rei de Jerusalém e por Leopoldo VI, duque da Áustria. Essa expedição alcançou o Acre, e em seguida seguiu para o Egito, porém a conquista desse território foi fracassada.

Sexta Cruzada 1228-1229:

A Sexta Cruzada foi comandada por Frederico II, imperador alemão. O líder teve bom êxito nas negociações com os maometanos: conseguiu algumas licenças econômicas, firmou um acordo de livre acesso dos cristãos à Jerusalém por quinze anos e foi titulado o rei de Jerusalém.

Sétima e Oitava Cruzadas (1248-1250 e 1270):

Luís IX da França foi o líder da Sétima e Oitava Cruzadas. No ano de 1248, o imperador iniciou a Sétima Cruzada e foi derrotado e aprisionado quando desembarcou no Egito. Foi libertado quando seus companheiros fizeram o resgate. Em 1270, Luís IX iniciou a Oitava Cruzada atacando a cidade de Túnis, no norte da África, onde morreu vitima de uma peste.

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